Se você que está lendo trabalha em produtora, em agência, em finalizadora, ou em qualquer coisa que tem a ver com vídeo, sabe que ralar mais do que 8 horas por dia, nas madrugadas e em fins de semana é a coisa mais normal do mundo.

É moeda corrente no meio. Mas concordemos todos que não devia ser assim.

Pois em pleno sábado de trabalho (não diga) eu tomei a liberdade de traduzir do início ao fim e publicar um post do blog Motionographer, um dos nossos sites de cabeceira, fonte de referência para 11 entre 10 bons motion designers do mundo. É um assunto bem importante, e que aqui no Brasil é ainda mais sério do que na gringa.

Segue as palavras abaixo que faço minhas:

O título desse post é pra muitos de vocês uma piada – pelo menos para aqueles que trabalham em motion design nos EUA, e especialmente aqueles que trabalham em Los Angeles ou Nova Iorque.

Mas não é piada para J.D.Meier, gerente de projetos da Microsoft há mais de 10 anos, e que usa as 40 horas semanais como o seu barômetro para medir o sucesso da admnistração de um projeto. Como ele diz no seu blog:

“Na minha experência, 40 horas semanais é uma referência para as equipes mais eficientes. Eles tem um equilíbrio entre vida e trabalho. Eles têm tranquilidade para responder às oportunidades e para lidar com os problemas.”

Meier já comandou projetos grandes e pequenos, com orçamentos que vão do zero a milhões de dólares. Um auto declarado workaholik acostumado a se escravizar por mais de 100 horas por semana – e gostando disso – ele finalmente percebeu que esse comportamente não era só inadequado pra ele, mas também insustentável pra Microsoft.

CONVIDANDO A INEFICIÊNCIA PARA TOMAR UM CAFÉ

Sem a limitação de 40 horas por semana, todo os tipos de ineficiências viram norma. É como elas fossem convidadas para tomar um café – e ficar pra janta e pro lanche da madrugada.

O problema principal, como Meier descreve, é a tendência a “jogar horas” nos projetos. Se não há limite, porque não marcar mais uma reunião? Por que não pedir pra todo pra ficar até mais tarde? Por que não contratar mais freelancers e esperar que eles trabalhem nos fins de semana também?

Segundo Meier, alguns problemas que surgem de uma jornada semanal de 60-80 horas incluem:

– Nada é prioridade, porque tudo é prioridade.
– Trabalhar rápido e pesado para compensar o mau planejamento.
– Muitas reuniões, porque sempre há tempo pra isso.
– Falta de prioridade porque não o tempo não os força a ter alguma.
– Falta de foco por causa da falta de prioridade e do tempo gasto em resolver problemas decorrentes disso.
– Má estimativa porque o projeto ou tem muito trabalho, ou pouco tempo, ou muita ambição.
– Mau planejamento de recursos por causa de más estimativas, falta de clareza e resultados confusos.
(para a lista completa, veja o post do Meier)

Em termos de negócios, isso soa como desgraça. Todo tópico acima tira lucro do orçamento. Não me impressiona que tantos estúdios reclamam de margens de lucro pequenas. São provavelmente os mesmo estúdios que pedem pizza toda noite pra sua dedicada equipe.

O QUE SE GANHA AO REDUZIR

Quando você limita a jornada semanal (sua e de sua equipe) em 40 horas, você ganha o seguinte:

– Aumento de foco
– Aumento de satisfação no trabalho
– Aumento de saúde física e mental
– Estimativas mais corretas, devido ao conhecimento mais claro de rendimento e capacidade.
– Comunicação mais focada, tanto internamente quanto externamente
– Maior controle sobre as margens de lucro.

Colocando um chapéu de 40 horas na semana significa que não deve haver desperdício. Significa trabalhar mais inteligentemente. Significa em zerar os 20% de saída que constitui 80% do valor de um projeto. Significa testar e refinar idéias ao invés de jogar um monte de funcionários pra trabalhar no primeiro rascunho.

A EFICIÊNCIA É SUA AMIGA

Uma questão chave deve ser ressaltada: implementar a mentalidade de jornadas de 40 horas semanais não é fácil. Você deve se comprometer com isso com um foco de um monge e entender que reduzir horas de trabalho significa aumentar a eficiência drasticamente.

E há uma outra palavra aí: eficiência. Para muitos criativos, isso é um palavrão, banido de seus vocabulários. Eficiência é para fábricas e robôs, não para artistas.

Mas é a eficiência que te permite focar inteiramente num projeto. É a eficiência que faz tudo fluir, o espaço mágico que surge quando criatividade e esforço estão alinhado e a produtividade explode.

Resumindo, é a eficiência que faz o trabalho mais divertido.

“Sim, mas é a Microsoft. Somos diferentes”

É verdade. Estúdios criativos são ainda mais sensíveis a ineficiências do que outras indústrias.

No coração de todo estúdio – e de cada talento – há o espírito criativo. É uma coisa frágil e temperamental. É também o bem mais valioso que um estúdio deseja ter. A demanda “normal” de 60/80 horas ameaça despedaçar esse precioso espírito.

TENHO CULPA NO CARTÓRIO

Eu quero parar um pouco pra confessar que eu já me apoiei na mentalidade das 60/80 horas tanto individualmente quanto como gestor. Várias vezes eu já respondi a grandes desafios com cargas de trabalho ainda maiores, acreditando que esse era o único caminho.

Como Meier, eu gosto de trabalhar. Eu trabalho muito, eu nunca me queimei. E como muitos americanos, eu sempre me orgulhei muito do número de horas que eu trabalhei e simultaneamente me fazia de vítima.

Enquanto vou chegando nos meus 30 e tantos anos e começo a planejar uma família, eu percebi que precisava parar. Não é somente pouco saudável pra mim, mas também para aqueles com quem eu trabalho.

É simplemente um mau negócio.

A RESPOSTA PARA “ISSO É IMPOSSÍVEL”

Talvez você seja um produtor ou um diretor de criação lendo isso, balançando a sua cabeça e pensando: “40 horas!? É impossivel”.

E aí tenho uma lembrança do meu tempo como Diretor de Criação num estúdio pequeno em Austin. Nas primeiras reuniões com o cliente ou no final de uma concorrência, eu sabia muito bem quando eu estava jogando o estúdio na fogueira. Eu sabia quando o orçamento era muito baixo, quando o prazo era muito curto e quando as expectativas eram muito altas.

Claro, a gente sempre concorda em fazer o trabalho assim mesmo. A gente diz pra gente mesmo “A gente precisa desse trabalho. Sem ele, a gente não vai conseguir pagar os salários detodo mundo. Sem ele, nosso portfolio vai estagnar. Sem ele, a concorrência vai detonar a gente”.

Alguns desses medos tem fundamento. Alguns não. A questão é que nós criamos um cenário em que a única solução era dizer “sim” e arcar com as consequências. O resultado é sempre uma margem de lucro pequena, que obviamente só vai perpetuar o ciclo. A coisa toda começou a parecer um longo espiral mortal.

PASSANDO PELO IMPOSSÍVEL

Ainda bem que nós quebramos o ciclo. Percebemos que precisávamos de focar implacavelmente no centro de nossas forças. Isso significou menos trabalho. Significou recusar algumas ofertas vindas no nosso site, não importando o quão legal ou promissor ela parecia. Isso significou potencialmente diminuir a equipe (o que graças a deus nunca aconteceu).

Por outro lado, a gente pôde dormir de novo. Retomamos nossas vidas. Claro, tivemos umas noitadas ocasionais, mas elas não foram vitais para o sucesso do negócio. A gente só teve elas por que eram divertidas, e eram sempre opcionais.

A RESPOSTA PARA “VOCÊ NÃO PODE AGENDAR A CRIATIVIDADE”

Outra resposta para a idéia das 40 horas é assim: a criatividade é um amigo inconstante. Você não consegue agendar inspirações. Você não pode colocar a genialidade no cronômetro. Como você pode esperar que um bom trabalho seja feito em 40 horas certinhas?

Toda essa linha de pensamento – esse mito que a criatividade precisa de uma musa, e que a musa não pode ter horário marcado – é o subproduto natural da crença que você precisa trabalhar na madrugada e nos fins de semana pra acabar os trabalhos. É o que acontece quando você se acostuma a trabalhar sem restrições de hora.

Já notou como a inspiração sempre aparece 3 horas antes de um deadline? Já ficou com só uma hora faltando e não acreditou no quanto trabalho você conseguiu fazer?

Tempo, em quantidades limitadas, é um motivador incrível. Enquanto você não consegue agendar uma grande idéia, ter uma semana estruturada pode te beneficiar imensamente. Tente.

DIGA COMO É

Quantas horas você trabalha? Quais são os desafios de uma mentalidade de 40 horas? Você acha que pode, pelo menos na teoria, fazer uma semana de 40 hroas uma realidade pra você ou pra sua empresa?

Advogados do diabo são bem vindos. Comente.